A Economia de Guerra da Rússia: Quando o Dinheiro Fala Mais Alto Que a Ideologia

Em tempos de guerra, dizem que a economia é a extensão das políticas do campo de batalha. Mas no caso do Kremlin, as recentes políticas econômicas são mais um retrato de quem precisa espremer cada rublo do cofre para manter a máquina de guerra funcionando – mesmo que isso signifique jogar seus próprios soldados ao fogo cruzado das finanças.

Compensação Militar: Cortando Custo no Campo de Batalha

Vamos direto ao ponto: Vladimir Putin está redesenhando as promessas financeiras que fez aos militares feridos. O incentivo original, criado para estimular jovens russos a entrar nas forças armadas, prometia 3 milhões de rublos para qualquer soldado ferido. Em 13 de novembro, Putin reduziu drasticamente essa compensação, oferecendo 1 milhão para ferimentos moderados e apenas 100 mil rublos para ferimentos leves. E como mágica – ou desespero –, o valor voltou a subir para 4 milhões em casos graves que levem a invalidez.

O problema? A comunidade ultranacionalista, composta por milbloggers e veteranos, está longe de se deixar enganar. Eles apontam que as promessas financeiras eram a base de recrutamento desde 2022 e que essas mudanças refletem um sistema financeiro que claramente não suporta mais o peso da guerra. Além disso, há relatos de que as comissões médicas estão sendo deliberadamente rígidas ao diagnosticar ferimentos, em uma tentativa de “economizar” às custas daqueles que arriscaram a vida no front.

Taxa de Juros: O Remédio Amargo do Banco Central

Enquanto a guerra avança, a economia russa caminha para o que especialistas chamam de “estagflação”: crescimento zero com inflação alta. Com a taxa básica de juros em 21%, a pressão sobre a produção e o consumo é evidente. O Banco Central parece estar mais preocupado em evitar um colapso financeiro do que em acelerar a produção de armas – um dilema desconfortável para um país no meio de um esforço de guerra prolongado.

Empresários da indústria de defesa e políticos já estão sentindo o aperto. Quando CEOs começam a reclamar, é porque algo está fora do controle. E, no caso da Rússia, é a própria base industrial de defesa (DIB) que está ameaçada. O impacto direto? Projetos de exportação congelados, dificuldades para mobilizar a economia, e um ciclo perigoso de inadimplência corporativa no horizonte.

Um Buraco Sem Fundo na Indústria de Defesa

Não importa o que o Kremlin faça, o ritmo de produção da indústria de defesa russa não está acompanhando as perdas no campo de batalha. Tanques, mísseis e sistemas de defesa estão sendo destruídos em números que a economia russa não consegue substituir. E, enquanto o governo aumenta as taxas de juros, cria inflação e implementa cortes financeiros nos militares, a Ucrânia continua a receber apoio internacional.

O contraste é gritante: enquanto o Ocidente sustenta a resistência ucraniana com pacotes bilionários de ajuda, a Rússia está redirecionando recursos para garantir que não quebre internamente antes mesmo de alcançar qualquer objetivo militar significativo.

Conclusão: O Preço da Persistência

Se o Kremlin esperava que suas políticas econômicas disfarçassem a fragilidade de sua economia, os ajustes recentes mostram o contrário. A Rússia está enfrentando não apenas uma guerra em duas frentes – militar e econômica –, mas também uma luta interna para evitar o colapso de sua própria narrativa.

No final, as sanções e o custo prolongado da guerra estão cobrando seu preço. O Kremlin pode continuar fingindo resiliência, mas até mesmo os soldados no campo de batalha sabem: há uma linha tênue entre promessas e realidade – e Moscou está tropeçando nela.

Enquanto o Kremlin vai se preocupando com as contas, a sua máquina de guerra vai cercando mais uma cidade ucraniana. Clique na imagem e veja sobre o cerco de Kurakove em novembro de 2024

Fontes:

Relatórios do ISW em 14 de novembro de 2024