O teatro de guerra no oriente médio: Israel, Hezbollah e as Implicações das Operações em Líbano, Gaza e Síria

A escalada do conflito no Oriente Médio tem levado a região a uma situação de alta tensão, com novos desdobramentos que destacam a complexidade da guerra entre Israel e seus vizinhos e adversários, como o Hezbollah e outras milícias. Em declarações públicas recentes, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que Israel está comprometido em expulsar o Hezbollah para o norte do rio Litani, “com ou sem acordo”, buscando atingir seus objetivos estratégicos e de segurança.

Em paralelo, negociações indiretas entre Israel e Hezbollah estão em andamento, com a mediação de intermediários, visando um cessar-fogo que poderia exigir a retirada das forças do Hezbollah para além do rio Litani. A implementação de tal acordo, no entanto, é complexa. Um documento preliminar vazado sugere que, caso o cessar-fogo seja alcançado, apenas o exército libanês poderia manter presença militar armada ao sul do Litani.

Essa exigência apresenta desafios significativos, uma vez que muitos combatentes do Hezbollah vivem na região, tornando difícil o cumprimento de uma retirada que os obrigaria a deixar suas próprias comunidades.

Operações Militares e Incursões em Território Libanês e Sírio

O aumento das atividades militares israelenses também tem sido observado com incursões em território libanês e sírio. No final de outubro e início de novembro, as Forças de Defesa de Israel (IDF) capturaram Ali Suleiman al Asi, um cidadão sírio, sob suspeita de espionagem para milícias apoiadas pelo Irã nas Colinas de Golã. Operações de inteligência como essa, executadas pela Unidade Egoz, indicam uma estratégia proativa de Israel para enfraquecer as infraestruturas de segurança e inteligência ao longo de suas fronteiras.

No Líbano, a captura de Imad Amhaz, oficial naval do Hezbollah, em Batroun, chamou a atenção internacional. Amhaz foi detido em uma operação cuidadosamente monitorada pela inteligência israelense, que visa desestruturar as atividades navais do Hezbollah. Esse tipo de operação sugere que Israel não está apenas reagindo aos ataques, mas buscando desmantelar as capacidades militares do Hezbollah em diversas frentes.

Em Gaza, as operações israelenses se intensificaram em novembro, com a Centésima Sexagésima Segunda Brigada atuando em Jabalia e a Ducentésima Quinquagésima Segunda Divisão focando em operações no centro da região. As forças israelenses têm neutralizado combatentes palestinos, destruído depósitos de armamento e desmontado túneis usados para transporte e fabricação de armas. Em um dos túneis descobertos, a IDF identificou instalações sofisticadas, incluindo alojamentos para operações prolongadas, reforçando as preocupações de Israel com a preparação de Gaza para confrontos prolongados.

Reações do Hezbollah e Confrontos no Sul do Líbano

A resposta do Hezbollah aos ataques israelenses não demorou. Desde o início de novembro, o grupo intensificou suas atividades contra Israel, conduzindo mais de duas dezenas de ataques. Em uma escalada significativa, foguetes foram disparados contra forças israelenses em Metula, e um ataque inédito ocorreu na Escola Técnica da Força Aérea Israelense em Haifa. Drones do Hezbollah também foram usados em operações, com um causando um incêndio em Wadi Ara e outro sendo abatido antes de penetrar o espaço aéreo próximo a Cesaréia, onde está localizada a residência de férias de Netanyahu.

As ações do Hezbollah são interpretadas como uma tentativa de pressionar Israel e demonstrar capacidade de resposta. Entretanto, a intensidade e a frequência dos ataques também indicam uma possível ampliação do escopo de suas operações, não apenas em retaliação aos ataques de Israel, mas como parte de uma estratégia mais ampla de afirmação territorial e militar.

A Situação Diplomática e os Desafios para o Cessar-Fogo

O quadro diplomático permanece incerto. As negociações indiretas para um cessar-fogo são um esforço que envolve várias partes, incluindo mediadores internacionais que buscam evitar uma guerra em larga escala entre Israel e Hezbollah. A proposta de desmilitarização da região ao sul do Litani com a presença exclusiva do exército libanês representa uma tentativa de estabilizar a área, mas o histórico de resistência do Hezbollah e suas raízes profundas na sociedade libanesa criam barreiras significativas.

O conflito em Gaza adiciona uma camada extra de complexidade ao cenário. Com as operações israelenses intensificando-se na região, o número de detidos e combatentes palestinos neutralizados aumenta diariamente. Além disso, as milícias palestinas têm lançado ataques de retaliação contra posições e assentamentos israelenses, perpetuando o ciclo de violência. A resposta de Israel, incluindo ataques aéreos e incursões, aponta para uma postura de autodefesa rígida, mas que é frequentemente criticada por gerar alto impacto entre civis.

Considerações Finais

A guerra em curso no Oriente Médio ilustra a dificuldade de se obter estabilidade em uma região com tantas forças e interesses divergentes. A insistência de Israel em expulsar o Hezbollah para o norte do rio Litani sem um acordo formal arrisca abrir novos focos de tensão com o Líbano e outros aliados regionais. Ao mesmo tempo, a dinâmica dos conflitos com as milícias palestinas em Gaza e as operações de inteligência contra o Irã e suas milícias aliadas em território sírio refletem uma estratégia israelense voltada para a dissuasão e controle de ameaças emergentes.

O Oriente Médio continua, assim, como um palco de guerra complexo, onde o avanço de um lado representa a escalada para o outro. Enquanto líderes regionais e mediadores internacionais trabalham para evitar uma ampliação do conflito, o cenário mostra-se volátil, e a paz ainda parece distante, dada a profundidade das divisões e os interesses em jogo.

Fonte: ISW