Novo Líder do Hezbollah, Naim Qassem, Realiza Primeiro Discurso Oficial e Reforça Compromisso com a Resistência Contra Israel
Naim Qassem, recentemente nomeado secretário-geral do Hezbollah pelo Conselho Shura em 29 de outubro, fez seu primeiro discurso oficial em 30 de outubro. Substituindo Hassan Nasrallah, que foi removido pelas forças israelenses em 27 de setembro, Qassem trouxe ao público um discurso que, apesar de novo em sua voz, seguiu as linhas tradicionais do grupo. Suas declarações indicam que sua liderança não introduzirá mudanças significativas na estrutura e direcionamento do Hezbollah, reiterando os compromissos ideológicos e militares da organização.
Qassem destacou a Capacidade Militar e o Plano de Guerra de Nasrallah
Em meio a uma crescente pressão sobre o grupo no cenário interno do Líbano, Qassem desviou o foco para a força militar do Hezbollah, destacando um “plano de guerra” contra Israel, previamente elaborado por Nasrallah. Ele reiterou demandas pela retirada israelense do sul do Líbano e advertiu sobre “perdas sem precedentes” que Israel enfrentaria em possíveis confrontos futuros. Segundo ele, o Hezbollah mantém suas posições militares com sucesso, estando bem abastecido e com presença forte nas linhas de frente, apesar dos frequentes ataques aéreos israelenses.
Como exemplo dessa força, Qassem citou um ataque recente com drones que, segundo ele, resultou na “neutralização” de quatro soldados israelenses e feriu outros sessenta. Contudo, relatórios do Comando Norte das Forças de Defesa de Israel (IDF), datados de 21 de outubro, pintam um quadro menos favorável para o Hezbollah, sugerindo que o grupo enfrenta dificuldades de coordenação no sul do Líbano. Além disso, indicam que o número de foguetes disparados diariamente, entre 100 e 200, está bem abaixo da estimativa inicial de mais de mil por dia, o que levanta dúvidas sobre as capacidades operacionais ou intenções do Hezbollah em intensificar os ataques.
Cessar-Fogo no Líbano: Um Possível Sinal de Flexibilização
Uma novidade em relação à liderança de Nasrallah foi a abertura de Qassem para discutir um cessar-fogo no Líbano de forma independente das operações israelenses em Gaza. Nasrallah historicamente vinculava a interrupção das hostilidades no Líbano ao fim das operações israelenses na região palestina, mas Qassem sugeriu que um cessar-fogo no Líbano poderia ser tratado separadamente, desde que ocorresse sob “condições apropriadas.” Ele destacou, no entanto, que o cessar-fogo deve preceder qualquer negociação formal, sugerindo uma abordagem pragmática que pode refletir tanto sua liderança quanto as dificuldades logísticas enfrentadas pelo Hezbollah em meio ao conflito intensificado.
Críticas a Israel e a Justificação da Defesa Proativa do Hezbollah
Qassem fez questão de criticar Israel, acusando-o de violar repetidamente a Resolução 1701 da ONU, que desde 2006 estabelece a proibição de forças militares ao sul do rio Litani. Em contrapartida, ele defendeu a construção de bases do Hezbolá na mesma região como uma forma de “defesa proativa” contra o que considera ameaças de eliminação por parte de Israel. Essa justificativa, que contraria a própria resolução que ele acusa Israel de violar, reflete a complexidade da atuação do grupo no sul do Líbano, onde ambas as partes alegam agir em defesa, enquanto expandem suas operações
Negação de Influência Iraniana e Agradecimento ao Apoio Regional
Qassem também abordou a questão da aliança com o Irã, negando que o Hezbolá esteja envolvido em qualquer “projeto iraniano” e enfatizando que a missão do grupo é exclusivamente voltada à defesa do Líbano. Apesar dessa negação, ele elogiou o apoio financeiro, midiático e político do Irã ao Hezbolá, além de reconhecer o suporte de aliados regionais, como os houthis e milícias iraquianas, que têm enfrentado perdas recentes em meio aos ataques israelenses no sul do Líbano
Conclusão
A ascensão de Naim Qassem à liderança do Hezbolá não parece indicar mudanças profundas no grupo. Suas declarações reforçam a continuidade da resistência armada e as demandas históricas contra Israel, bem como uma postura estratégica cuidadosamente ponderada sobre o cessar-fogo no Líbano. No entanto, a abertura para negociações sob condições específicas e as dificuldades militares relatadas sugerem que sua liderança poderá ser mais pragmática do que a de Nasrallah, especialmente em um cenário de pressões internas e limitações logísticas.
Fonte para uma leitura completa: Relatório do ISW em 30 de outubro de 2024
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