Mil dias de guerra: novos capítulos no teatro ucraniano
Imagens dos ataque russos de 17 de novembro de 2024 que marcaram os 1000 dias de guerra na Ucrânia
No dia 17 de novembro de 2024, o conflito na Ucrânia alcançou um marco histórico: 1.000 dias de guerra. Para marcar a data, Vladimir Putin intensificou os ataques em larga escala, atingindo níveis de violência que não eram observados desde agosto.
Paralelamente, em um movimento decisivo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou o uso dos mísseis ATACMS em operações ucranianas contra alvos russos. A autorização é vista como um gesto que pode redefinir os rumos do conflito, levantando a questão: será este o ponto de virada na guerra?
A autorização americana e seu impacto estratégico
De acordo com os jornais The New York Times e The Washington Post, os Estados Unidos permitiram que a Ucrânia utilizasse os poderosos mísseis ATACMS em ataques direcionados na região de Kursk, em território russo. Este armamento, considerado de alta precisão e letalidade, oferece à Ucrânia uma capacidade inédita de atingir alvos estratégicos em profundidade.
A justificativa para essa decisão está relacionada ao aumento do apoio militar da Coreia do Norte à Rússia, incluindo o envio de forças para reforçar tropas russas na região de Kursk. Ainda assim, o uso dos ATACMS permanece limitado a alvos específicos na área, o que pode frustrar as expectativas ucranianas quanto ao potencial estratégico do armamento. Existe, no entanto, a possibilidade de que a autorização seja ampliada no futuro, dependendo do desenrolar dos combates.
Enquanto isso, França e Reino Unido também flexibilizaram restrições ao uso dos mísseis Storm Shadow pela Ucrânia. Apesar da falta de clareza sobre o alcance dessa autorização, ela reforça o apoio militar ocidental ao esforço ucraniano, embora, até agora, o impacto seja limitado frente ao grande número de alvos militares russos fora do alcance desses sistemas.
A intensificação dos ataques russos
Na mesma data, a Rússia realizou o maior ataque aéreo contra a Ucrânia desde agosto. Durante a noite de 16 para 17 de novembro, mais de 200 mísseis e drones foram lançados de várias localizações. Entre as armas empregadas, destacaram-se os mísseis hipersônicos Kinzhal e Zirkon, além dos drones Shahed..
A defesa antiaérea ucraniana demonstrou alta eficiência, interceptando cerca de 144 projéteis. Ainda assim, os ataques causaram danos significativos a infraestruturas críticas, como usinas de energia, barragens e linhas ferroviárias. Esses alvos são fundamentais para a manutenção da estabilidade energética e logística do país, especialmente com a chegada do inverno.
Relatórios indicam que a guerra eletrônica desempenhou um papel importante, interferindo em cerca de 40 drones russos. Porém, alguns ainda conseguiram atingir alvos importantes, incluindo uma usina termelétrica no Oblast de Rivne e linhas de energia que abastecem usinas nucleares, forçando uma redução na produção energética.
Resiliência ucraniana no campo de batalha
A resposta ucraniana continua a impressionar, tanto em termos de estratégia quanto de determinação. Nas linhas de frente e nas cidades, histórias de resiliência emergem, como a de Nataliia Hrabarchuk, uma ex-professora de pré-escola que, agora, opera equipamentos de defesa antiaérea. Ela integra uma rede intrincada de unidades espalhadas pelo território ucraniano, posicionadas estrategicamente nos “corredores aéreos” mais visados pelos russos.
Essas unidades desempenham um papel crucial na neutralização de ataques com mísseis e drones, ajudando a minimizar os danos e salvando inúmeras vidas.
O papel da Coreia do Norte no conflito
Outro elemento que complica ainda mais o cenário é o envolvimento crescente da Coreia do Norte. Relatórios apontam que Pyongyang enviou sistemas de foguetes e obuses para apoiar as forças russas e planeja reforçar ainda mais seus esforços, com a possibilidade de envio de até 100.000 soldados norte-coreanos.
Embora essa movimentação alivie temporariamente a pressão sobre os esforços de recrutamento russos, analistas alertam que o impacto de longo prazo será limitado. As taxas de baixas russas permanecem altas, e é improvável que os soldados norte-coreanos, com pouca experiência em combates modernos, possam alterar significativamente o equilíbrio no campo de batalha.
Ambições políticas e riscos geopolíticos
No plano político, as ambições de Vladimir Putin continuam claras: a Rússia busca consolidar o controle sobre os Oblasts de Luhansk, Donetsk, Zaporizhia e Kherson. Além disso, há um interesse estratégico em garantir acesso ao rio Danúbio e à Transnístria, na Moldávia.
Embora apresentados como propostas de paz, esses objetivos representam ameaças diretas não apenas à Ucrânia, mas também a outros países da região, incluindo aliados da OTAN, como a Romênia. O controle russo sobre esses territórios poderia consolidar sua presença militar no noroeste do Mar Negro, desestabilizando ainda mais a região.
Conclusão: um conflito sem fim à vista
Após 1.000 dias de guerra, o conflito na Ucrânia continua a escalar, envolvendo novos atores e estratégias cada vez mais complexas. A autorização para o uso dos ATACMS, os ataques massivos da Rússia e o envolvimento direto da Coreia do Norte mostram que a guerra não apenas se mantém, mas se aprofunda.
Enquanto isso, a Ucrânia, com o apoio de seus aliados ocidentais, segue resistindo. A resiliência do povo ucraniano, mesmo diante de adversidades crescentes, é um testemunho de sua determinação em proteger sua soberania. No entanto, com a chegada do inverno e a intensificação dos combates, o mundo observa atentamente, ciente de que os próximos capítulos desse conflito podem ter implicações que vão muito além das fronteiras da Ucrânia.
Fontes:
Relatórios do ISW em 17 de novembro de 2024
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