Cessar-Fogo no Líbano: EUA e Israel em Negociações para Conter o Hezbollah
Autoridades americanas e israelenses estão em estágios finais de uma proposta de cessar-fogo para encerrar os combates no Líbano. Esse esforço diplomático está sendo liderado pelo ministro israelense de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, que se reuniu recentemente com o enviado especial dos EUA para o Líbano, Amos Hochstein, e com o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan.
De acordo com um funcionário americano, essas reuniões têm sido “produtivas”, ajudando a aproximar os dois países sobre a proposta e os termos de uma “carta lateral” para garantir que os Estados Unidos apoiem a liberdade de ação militar de Israel contra o Hezbollah.
Hochstein afirmou em uma entrevista recente que vê uma “chance” de assegurar um acordo de cessar-fogo em breve. O próximo passo seria uma viagem de Hochstein a Beirute, onde ele discutiria a proposta com autoridades libanesas, assim que os detalhes finais da proposta e da carta lateral forem acordados.
Desafios nas Negociações: Exigências Divergentes entre Israel e Hezbollah
A proposta de cessar-fogo, no entanto, enfrenta obstáculos significativos. Israel quer manter a capacidade de realizar ações militares no Líbano contra ameaças do Hezbollah, enquanto o Hezbollah insiste em proteger a soberania libanesa sem concessões.
O secretário-geral do Hezbollah, Naim Qassem, afirmou recentemente que Israel precisaria encerrar suas operações no Líbano antes que o grupo considerasse qualquer negociação indireta. O Hezbollah quer garantir que o cessar-fogo não permita operações estrangeiras além do mandato atual da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL).
Essa divergência sugere que, caso as negociações indiretas fracassem, as Forças de Defesa de Israel (FDI) provavelmente continuarão suas operações aéreas e terrestres no sul do Líbano. Autoridades israelenses já indicaram que manterão pressão sobre o Hezbollah para evitar que o grupo se reestruture ou retome ataques no futuro próximo.
Estratégia do Hezbollah: Preservação de Forças ao Norte do Rio Litani
Apesar das divergências, o Hezbollah pode acabar aceitando os termos de cessar-fogo propostos por Israel e pelos Estados Unidos, visando preservar suas forças e infraestrutura ao norte do rio Litani. Desde o início da campanha militar israelense, o Hezbollah sofreu perdas consideráveis, o que pode pressionar o grupo a optar por um acordo temporário para evitar maiores danos.
Caso o cessar-fogo seja implementado conforme discutido, Israel ainda manteria o direito de atacar combatentes e alvos do Hezbollah no sul do Líbano, caso a UNIFIL ou as Forças Armadas Libanesas (LAF) falhem em aplicar os termos acordados. A decisão do Hezbollah de aceitar essa condição pode estar ligada ao seu desejo de manter sua capacidade de reconstrução e de sobrevivência a longo prazo.
Desafios Logísticos e o Papel da UNIFIL e da LAF
Um dos pontos críticos das negociações é a capacidade da UNIFIL e da LAF de sustentar o cessar-fogo no sul do Líbano. Desde 2006, a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU não conseguiu efetivamente desarmar o Hezbollah nessa região. Assim, espera-se que a LAF seja responsável pela implantação de forças no sul para garantir a segurança após o cessar-fogo.
No entanto, fontes libanesas indicam que a LAF pode não ser capaz de mobilizar tropas com a rapidez necessária, o que pode enfraquecer o cessar-fogo e permitir que o Hezbollah recupere terreno.
A lenta mobilização das forças libanesas e os desafios de coordenação com a UNIFIL dificultam a aplicação de um cessar-fogo duradouro. Esse cenário aumenta a complexidade da situação, pois a fragilidade na aplicação do cessar-fogo pode levar a uma retomada das hostilidades e ampliar as tensões regionais.
Conclusão
A proposta de cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah representa um esforço significativo para reduzir a escalada de violência no sul do Líbano, mas está cercada de obstáculos políticos e logísticos. A insistência de Israel em manter liberdade de ação militar e a resistência do Hezbollah em ceder soberania são os principais pontos de impasse. Além disso, a efetividade da UNIFIL e da LAF em sustentar o acordo é uma questão ainda sem solução clara.
O sucesso ou fracasso dessas negociações pode determinar a estabilidade regional e o futuro da presença militar do Hezbollah ao sul do Líbano. No entanto, com as condições atuais e as limitações de controle sobre o Hezbollah, é incerto se esse cessar-fogo trará uma paz duradoura ou apenas um breve alívio no conflito.
Fontes:
Relatórios do ISW em 13 de novembro de 2024
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